Compromisso coletivo: a conscientização sobre reciclagem e reaproveitamento de resíduos da construção
Como seu entulho pode impactar o custo da sua obra e a sua cidade?
Quem já vivenciou uma obra sabe o quanto gera de entulhos e desperdícios. Materiais de construção, como argamassa que sobra e não consegue ser reutilizada, precário armazenamento de materiais, execuções mal feitas e retrabalhos. E já pensou como seu entulho pode impactar o custo da sua obra e a sua cidade?
No Brasil, geramos quase 100 milhões de toneladas de Resíduos de Construção e Demolição (RCD)/ano e apenas 20 milhões de toneladas/ano é transformado em agregados reciclados, de acordo com a pesquisa feita pela ABRECON nos anos de 2019 e 2020. E cerca de 44 milhões de toneladas/ ano podem ser desconsideradas como resíduos de construção, por fazer o descarte indevido para reciclagem.
Isso demonstra um enorme problema de poluição ambiental para as cidades, desafios para incentivar a destinação correta e melhor o reaproveitamento desses materiais de forma econômica e sustentável.
O que é reciclado, como pode ser reaproveitado e onde pode ser descartado?
Todo o entulho que vai para caçamba, pode ser reciclado em usinas de reciclagem de RCD. Nesse local começa pelo recebimento, passa pela triagem, onde é feita a separação dos materiais de acordo com a classificação do que podem ser reciclados e o que vão para o aterro.
E o último processo, é a separação dos materiais por composição e granulometria, produzindo os agregados reciclados: brita, areia, bica corrida, rachão e pedrisco. Geralmente, são utilizados em terraplenagem, pavimentação, mistura para concreto, argamassa e até mesmo para fabricação de blocos de vedação.
Para fazer o descarte desses resíduos, é importante entender como acontece a triagem. Esta etapa segue de acordo com CONAMA nº307/2002, pelas classificações:
Classe A: são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como: a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem; b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto; c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras;
Classe B: são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como plásticos, papel, papelão, metais, vidros, madeiras, embalagens de tintas e gesso; (Redação Resolução nº 469/15)
Classe C: são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação, tais como os produtos oriundos do gesso;
Classe D: são os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como: tintas, solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros;
Com essa separação, as classes C e D devem seguir para o aterro sanitário ou aterro de resíduos perigosos ou não perigosos.
Dicas de utilização da caçamba e descarte correto:
Utilize caçamba apenas para resíduos de classe A e B.
Destinar para ecopontos: poda, corte de árvores e galhos, objetos grandes como sofás, móveis antigos e eletrodomésticos;
Lâmpadas, baterias, pilhas e eletrônicos: destinar para pontos de coletas disponibilizadas no município.
Não triturar e misturar o amianto com o resíduos de construção civil: separe e destine para aterros de resíduos perigosos, conforme a ABNT 10004/2004.
Não misturar alimentos e materiais de EPI: destinar para coleta seletiva;
Evitar acidentes durante o transporte com caçambas lotadas;
Certifique-se sobre o caçambeiro: exija a via de controle de transporte de resíduo e esteja consciente - o responsável pela destinação correta é o gerador.
Se informe sobre as autorizações e taxas do município, antes da colocação da caçamba na rua.
Um ato consciente da sua própria caçamba para incentivar a sustentabilidade
Sabendo que a capacidade de reciclagem é bem maior do que é feito atualmente, deve ser reforçada a conscientização sobre a separação desses resíduos da construção. Esse é o primeiro passo para as pessoas colaborarem na triagem, diminuindo com os gastos, desperdícios de resíduos para reciclagem e entender como está fazendo esse descarte.
A orientação proporcionada por profissionais e construtoras de obra, manifesta uma abordagem construtiva ao realizar adequadamente a separação desse entulho. Pela ação coletiva, criamos bons hábitos nos lares, dentro de condomínios, bairros e cidades, minimizando riscos à própria saúde, danos ao meio ambiente, contaminação de solo e lençóis freáticos.
Além disso, precisamos estabelecer uma comunicação eficaz para compatibilização de projetos e planejamento de obra, que aprimoram a qualidade de execução e o aproveitamento dos materiais e do tempo de mão-de-obra.
Entretanto, é fundamental a participação ativa de gestores públicos e privados, junto às usinas de reciclagem, para a elaboração de estudos que viabilizem a instalação dessas estruturas e diminuam esses custos de reciclagem. Encontrar alternativas de como otimizar essa logística com outras regiões menores e ausentes desses serviços, podem evitar novos aterros clandestinos.
Por isso, esse conhecimento é uma maneira de atrair política e gestões de combate ao descarte incorreto em grandes cidades e regiões metropolitanas. Incentivar e desenvolver modelos de reaproveitamento desses materiais podem ser bastante viáveis, quando pensamos em transformações que podem gerar uma nova economia mais sustentável e garantir espaços mais saudáveis para toda a população.