Mais que uma exposição de arquitetura, uma deliciosa viagem no tempo e nas minhas memórias
Marcar presença em eventos relacionados a minha profissão é fundamental. É dessa forma que eu acompanho as tendências e os lançamentos. Até aí as expectativas são bem previsíveis.
Alguns destaques nos inspiram e nos fazem vislumbrar projetos, mas algo me surpreendeu durante a minha visita à Exposição CASACOR 35 anos.
Exposição CASACOR 35 anos – Conjunto Nacional Adriana Barbosa/CASACOR
Uma visita breve a São Paulo, dia nublado, chuviscando e frio. A Paulista começou a ficar cheia de carros em pleno fim de semana e meu objetivo era visitar a exposição CASACOR em sua 35ª edição.
E lá estava eu colocando os pés novamente no Conjunto Nacional, onde tive um dos meus primeiros contatos com o universo da Arquitetura. A saudade de viajar e poder estar nessa cidade que sempre traz tantas novidades parece que nos embala dentro dos ambientes.
A trajetória da exposição nos remete a conhecer várias memórias da própria CASACOR, bem como o tema Infinito Particular a expor as inúmeras tendências que afloram nesse período, cujas nossas conexões se tornaram menos físicas e nossos sentimentos nos direcionaram para nosso espaço individual como proteção e acolhimento.
Um dos núcleos da exposição, a Linha do Tempo, trazia um panorama histórico, assim como os demais temas: Introdução, Boas-Vindas, O Evento, Sustentabilidade e Impacto Social e Homenageados.
Nostalgia
Para descrever uma visita com tantas particularidades, posso resumir o sentimento que me arrebatou logo no primeiro momento: nostalgia. Sabe aquele sentimento que sempre nos remete à casa da nossa infância, à casa dos nossos avós?
Os criadores pareciam contar uma história que cada um buscou em suas memórias para reconstruir um espaço da casa que mais acolhiam.
Não sei como era a casa da sua infância, mas sabe aquela casa que é decorada intuitivamente, sem a influência de um arquiteto? Uma espécie de combinação "autoral” daquela época!
Minhas lembranças me levaram até essa época. É claro, agora pude ver uma releitura muito bonita e desenhada dessas memórias, tecidos bem estampados, muitas cores e contrastes, peças orgânicas, espaços curvos, e a decoração sempre teve em destaque alguma peça decorativa que parecia ser uma lembrança particular do criador.
Espaços em destaque
Casa Eté Duratex
Destaque para o espaço “Casa Eté Duratex” do escritório Todos Arquitetura, dos arquitetos Maurício Arruda e Fábio Mota, que ficou bem evidente essa identidade, até o piso cerâmico com rejuntes largos me fez recordar o piso da casa da minha “batian”.
Pude sentir uma composição muito autoral com peças que pareciam ser de certa forma do autor e o equilíbrio nas cores e proporções das casas brasileiras para um ambiente que traz muitas novidades com peças com tanto design e conforto.
Durante o percurso da exposição pude refletir sobre outro ponto: a elegância na essência que os arquitetos trazem sobre sua trajetória. A sensorialidade de fazer um ambiente com tanta presença e sutileza. Uma identidade não compartilhada com as minhas lembranças, no entanto pude sentir essa memória da sua carreira.
Loft Sertão Portinari
Esses espaços conversaram de uma forma diferente, como destacou o loft Sertão Portinari do Nildo José Arquitetos, que mesclou a origem em Feira de Santana, cidade natal do arquiteto, com o sertão brasileiro presente nos quadros de Candido Portinari. Histórias que contam através dos tons quentes e terrosos predominantes no ambiente. Por trás disso, os olhares nos direcionam às obras do pintor e projeções que contam as visões de um sertanejo.
Casa Consentino Embaúba
Outro destaque foi a Casa Consentino Embaúba de Lucas Takaoka. Ambiente minimalista e muito aconchegante por trazer uma mata para dentro do espaço. Cores neutras e iluminação indireta que nos faz sentir uma suavidade e leveza em contato com a natureza.
Conclusão
Essa nostalgia traz boas lembranças para mim. Revisitar o conjunto nacional, me trouxe de volta as lembranças da viagem que fiz no início da faculdade quando tive meu primeiro contato com a arquitetura. Um passeio a pé com a turma da faculdade para conhecer vários edifícios icônicos. E digo: como foi marcante! Sentir o movimento e ritmo da cidade. Ver que cada canto da cidade conta uma história. É isso que a faz ser tão atraente e tão viva.
Não é uma nostalgia que me faz querer permanecer no passado, mas que me faz aceitar as coisas boas que deixaram marcas nas minhas lembranças, e que hoje me dá a certeza de que podemos fazer coisas incríveis reinventando o tempo todo.