A importância da ventilação natural para qualidade de vida
Como renovar o ar interno do espaço e se adaptar ao clima?
Nesse verão onde estamos sofrendo com elevações do calor em torno dos 40ºC em várias regiões do país, o que mais queremos é colocar um ar condicionado para aliviar esse desconforto.
No entanto, quando estamos no nosso momento de férias, em lugares bem quentes como a praia ou um passeio no meio da mata úmida e quente e até mesmo para fazer uma corrida ao ar livre, suportamos de alguma forma esse calor, não é mesmo?
Parece que de certa forma sabemos como compensar essa necessidade de ficar em ambientes externos e temos muitos motivos fisiológicos para gostar do Sol.
“Gostamos mais do verão porque grande parte da evolução do nosso cérebro ocorreu em locais quentes”, como relata a Claudia Feitosa-Santana, neurocientista, arquiteta e engenheira, pós-doutora em Neurociência pela Universidade de Chicago, na reportagem “Por que a gente fica feliz no verão? da Revista Gama.
Com isso, temos uma relação biológica importante com o sol e nosso bem-estar. Tomar sol traz diversos benefícios, como ativação da Serotonina, neurotransmissor do prazer, produção do hormônio Cortisol, que ajuda na regulação do metabolismo e sistema imunológico, regula o nosso ciclo circadiano e a vitamina D, que fortalece nossos ossos, imunidade e diminui o aparecimento de doenças como obesidade, diabetes, câncer, etc.
Mesmo todos concordando na preferência em ir ao shopping climatizado a andar no calçadão no calor escaldante, dormir com ar condicionado para ter uma boa noite sono, sabemos que precisamos renovar o ar interno desses espaços, quando tratamos de saúde.
E não posso deixar de pensar: como podemos nos adaptar a esse clima tão quente e pensar uma forma saudável e sustentável das nossas edificações?
Entendendo a qualidade do ar interno
Sabia que passamos quase 90% do nosso tempo em ambientes fechados e que os níveis de poluentes nesses espaços podem ser 2 a 5 vezes maiores que os ambientes externos? É o que informa no artigo Indoor Air Quality da EPA - Environmental Protection Agency dos Estados Unidos.
Desde a falta ou inadequada manutenção dos equipamentos de climatização, até questões de limpeza, materiais de construção, fumaças, produtos de limpeza e de controle de pragas, podem dispersar várias partículas e aumentar a concentração de pó, ácaros, fungos, que são prejudiciais a nossa saúde e causadores de doenças como rinites, bronquites e dores de cabeças.
E quais medidas são necessárias para melhorar a qualidade do ar? Trago as dicas da reportagem “Impurezas no ar: como a poluição doméstica e a ambiental afetam a saúde“ da Veja Saúde:
Ventilação do ar: a troca do ar ajuda a fazer a manutenção da qualidade do ar, trazendo economia de energia com iluminação e climatização;
Manter os ambientes sempre limpos, de preferência utilizar aspiradores de pó com filtros para evitar a dispersão de sujeiras;
Evitar áreas úmidas: manter sempre limpo e seco os ambientes. Também fazer manutenções de áreas que provocam infiltrações para evitar contaminação por germes, por exemplo;
Viver perto de áreas verdes: para renovar e refrescar o ar externo e envolta da edificação, além de trazer um bem-estar global;
Evite utilizar produtos químicos tóxicos e também materiais que provocam a combustão que acumulam dióxido de carbono e uso de cigarro no interior da casa. Sempre utilize esses produtos em ambientes com bastante circulação de ar e ventilação para dispersar a fumaça e componentes voláteis;
Manutenção de climatizadores: manter sempre limpos para não dispersar sujeiras e bactérias.
Como a ventilação natural promove o conforto interno

A ventilação natural é uma soluções mais eficazes para obter o conforto ambiental com menores gastos energéticos, empregando o fluxo normal do ar como a condicionante e melhoria da qualidade do ambiente interno, definido no artigo “Ventilação natural como estratégia para o conforto térmico em edificações” dos engenheiros civis Henor Artur de Souza e Luciano Souza Rodrigues, publicado na REM - International Engineering Journal de Minas Gerais.
O estudo mostra como funciona o fluxo de ar dentro de um ambiente interno para os dois modelos de ventilação: cruzada e unilateral. O primeiro modelo é quando temos mais aberturas de janelas e portas na edificação e geralmente estão do lado oposto, e o segundo modelo é quando o espaço possui apenas uma abertura.
E como base foi considerado uma fonte de calor no seu interior, que isso representa as pessoas e equipamentos em um ambiente de escritório, mostrando no experimento, o comportamento do efeito combinado da ação dos ventos e temperatura com a fonte interna e as formas de aberturas unilateral e cruzada.
Os resultados mostraram que:
A ventilação cruzada tem uma taxa de renovação do ar 3,5 vezes maior que a ventilação unilateral;
Fontes de calor interno interferem na distribuição do ar e isso pode prejudicar, quando o calor faz o fluxo de ar subir prejudicando a parte inferior. E no caso da ventilação unilateral, acaba sendo uma barreira e estagnado a movimentação do ar;
A recirculação do ar pode ser acentuada e melhorar a eficiência da ventilação, quando o calor da fonte interna aumenta em um ambiente com ventilação cruzada, independente da sua profundidade.
Quando permitimos essa troca de ar no espaço interno e externo, esse fluxo auxilia na renovação do ar e traz a mudança de temperatura do ambiente que minimiza o calor interno.
É importante considerar que a localização, entender a posição solar para cada ambiente e como o clima local pode favorecer o conforto ambiental, em conjunto com a qualidade projetual e construtiva dessa edificação.
Conclusão: o que é necessário para nosso conforto?
Manter um espaço ideal e confortável, pode parecer muito distante para muitas pessoas.
As diversas soluções técnicas que escutamos para projetos podem aparecer até uma certa arrogância, em falar na utilização de materiais que trazem menos desperdícios de materiais e excelentes em isolamento térmico e acústico, sendo que esse alto desempenho é inversamente proporcional ao custo. Dessa forma, esse custo mais elevado distancia do que muitos brasileiros podem pagar pela execução correta desses materiais e sistemas construtivos, por serem poucos habituais em nosso país.
E pela complexidade de adquirir essa qualidade quase incompatível com a realidade de muitas pessoas, acabamos praticamente desconsiderando esses estudos técnicos feitos por engenheiros e arquitetos. A simplicidade de colocar um ar condicionado parece ser muito simples e viável à primeira vista, mas afeta a vida e bolso de todos, quando tratamos de clima, escassez de energia e aquecimento global.
Bons projetos arquitetônicos, que se preocupam com o bem-estar, promovem um clima mais acessível a todos. Saber que existem muitas formas de construção de edificações com conforto ambiental, é uma forma de divulgar ideias para se popularizar e que se tornem mais econômicas no mercado de construção civil.
Assim, a ventilação cruzada pode trazer um melhor conforto interno e renovação do ar, essencial para nossa saúde. Como muitos imaginam, isso não resolve todos os problemas ambientais e nosso conforto para ficar tranquilamente dentro de nossas casas e em nosso trabalho.
Por isso, a conscientização de boas soluções e orientações corretas, são fundamentais para que se empreguem as melhores ideias. Será que podemos aceitar em alguns curtos períodos do tempo, em ficar com janelas abertas para minimizar a temperatura do ambiente? Perceber que podemos usufruir das plantas e árvores para refrescar e tornar um espaço mais agradável e saudável?
Não impeço ninguém de usar o ar condicionado. Mas algo a se pensar mais simples e coletivamente, para que todos tenham um espaço garantido nesse planeta, onde cada vez mais precisamos trabalhar mais para pagar o mínimo de conforto, ou daqui em diante, adquirir menos que isso, se cada um de nós não tomarmos alguma medida.